visto aqui: máquina de escrever
28.2.16
27.2.16
24.2.16
quero trabalhar na central eléctrica, se faz favor.
«O emprego na central eléctrica fora o pai que lho arranjara depois de ter sido despedido do seu trabalho anterior, como chefe da estação dos correios da Universidade de Mississípi. Ao que parece, houve um professor qualquer que apresentou razoáveis motivos para uma queixa: a única forma de obter a sua correspondência era rebuscando no caixote do lixo das traseiras, onde com frequência iam parar directamente, por abrir, os sacos de cartas recebidos. Faulkner não gostava que lhe interrompessem a leitura, e a venda de selos caiu de maneira alarmante: a modos de explicação, Faulkner disse à família que não estava disposto a levantar-se continuamente para ir atender ao guichet e ter de agradecer a um filho da mãe qualquer o facto de ter dois cêntimos para comprar um selo.»
Vidas Escritas, Javier Marías (William Faulkner a Cavalo)
...tal e qual, amigo Faulkner...
22.2.16
tesouros da blogosfera ii
meninos e meninas, atenção!
Caros Senhores, Madames e Mademoiselles,
cocheiros, aguadeiras e criadas de copa,
pirataria, máfia russa, des/herdeiros de leste, multidão em geral,
a história que aqui vos deixo, delirium tremens à lagareiro,
foi ouvida numa tasca borrasca, sem grande ostentação,
não fosse o Polvo-poeta um monstrengo de estimação
e a dita palavrosa acompanhada de muita zurrapa espiritual.
falou de três belas bruxas,
santa tríade da zundapp,
e de uma vaca leiteira,
que salvaram de ir para abate,
depois, entre rodadas de bota(s) a baixo,
findadas em copos vazios,
misturou rum com gin,
e toda a noite passou a espasmaçar,
(rezando para não gregoriar).
juntou-se-lhe um inglês mal-cheiroso
que declamava poesia enrolada em cigarros de maconha
e arrotava a frutos do mar.
Sir William, de seu nome,
deve ter iludido o Polvo poeta, que não era pateta, mas se deixou cair na peta,
da pirata mulher,
e eis a razão pela qual,
cigano maltes,
assombrado de mau-tempo,
decidiu inventar,
tesouros da blogosfera
abençoada Mumu, assombração de Pirata, que deu esta novela [avé, Bruxas mái lindas da zundapp!]
Respostas
- lamento, mas Mumu já nã ri...
- Depardieu: Olá querida, que belo outfit, cheio de guisadinhos, hum, perdão guizinhos!
Dulcineia: Krido, ah,ah, escusa de me olhar para o decote...faz-me corar.
Depardieu: E o que fez à marrafa, tá tãããoo gira! E os cascos pintados de verde alface querida, ainda a acusam de ter ido às couves...
Dulcineia: Assim envaidece-me, Gérard, você é que é très beau, parece mesmo um Charolês, (é mesmo o meu tipo de homem- aparte, com um trejeito, virada para a blogosfera). Olhe trouxe-lhe cinco litros de leite; sei que é de muito alimento, querido.
Depardieu: Então e onde quer a minha estrelinha ir jantar? Pode ser a uma hamburgueria, ou sugere outra coisa, da última vez não conseguiu acabar o hamburguer, minha MuMu querida...
Dulcineia: A culpa é toda do papel que lhe deram, meu touro, você era suposto fazer-me em picado, lembra-se, então comecei a comer mas veio-me um prião à boca, Krido, e lembrei-me das vacas todas loucas...mas olhe por si é que estou louca, aquele Vascó é mesmo um bovino com olhar de carneiro mal morto, um ressabiado...um talhante!
Depardieu: Não fale assim do Vascó, vaquinha dos meus sonhos, não se esqueça que ele a escolheu para o papel principal, e contra-cear comigo não é para todas. Que belo naco que és, Krida!, (afagando-lhe o pescoço);
Dulcineia: Um chateaubriand, querido; trate-me bem! (aparte para a blogosfera, enquanto raspa o casco direito no chão)- um chatô, é o que és!)
Depardieu: Minha saborosa, chega-te aqui (aparte para a blogosfera- chega mas é para lá esses chifres);
Dulcineia: E sabe querido, eu ganhei àquelas grandes vacas do casting, as manas ruivas, e a outras loiras, mais de mil! Nenhuma tinha um pojadouro como o meu no portfólio, essa é que é essa!
Depardieu: Por mim chamo-lhe um figo, meu bifinho do lombo mal passado...
Dulcineia: Foi logo o que eu pensei, meu bem. (aparte para a blogosfera,-dou-te bifes e tu dás-me hamburguers...)
Depardieu: Pareceu-me ouvir qualquer coisa...olha, já me esquecia, trouxe-te um arganel de Paris...
Dulcineia: Já me chegam os brincos e o ferro de família. E o arganel é para quê, a esta hora?
Depardieu: Pour Dieu, usa-se, nunca reparou?(aparte para a bogosfera, é vaca mas não é burra)
Dulcineia: Olhe krido, vou ali aos bastidores e já venho. Está lá uma novilha giríssima ansiosa por te conhecer...
Depardieu: Não se mace, você é mais o meu género... (aparte para a blogosfera, Tenrinha, oh, até podem vir duas!)
Dulcineia: Eu quero o melhor para o meu Sancho Pança! (aparte para a blogosfera-Já vais ver como dás às de Vila Diogo!)
Dulcineia, dirigindo-se ao guarda-costas: Olhe Muhammad Bisonte, é Ali; depois já podemos ir jantar descansados, eh, eh, eh.
[do teatro a oito tentáculos, em duas cenas e um acto, já lá iremos. também não esquecemos os diários de bordo gatafunhados sob o efeito pingão do rum a martelo...]
21.2.16
«Fora de quê?»
Cristina Nobre Soares, in Em Linha Recta
Henri Lopes, 78 anos, escritor congolês, afirmou no seu livro de ensaios My Bantu Grandmother (2003): "Richard Wright, Langston Hughes, James Baldwin, Nicolás Guillén, Lovelace nunca puseram um pé no Congo e mesmo assim falam comigo." Ele falava da origem comum, longínqua por vezes, a da diáspora negra.
Fatou Diome, senegalesa de 47 anos, é ainda mais abrangente: "Já não sei quem - se a africana, a europeia, a mulher viajada ou a rapariga negra - é a responsável pela textura do meu trabalho", disse no artigo da Sunday Book Review à sua colega de origem iraniana, Azam Zanganeh. Essa é uma das condições para escrever de fora: não saber o que é estar-se de fora. Fora de quê?
Isabel Lucas, Escrever fora do mapa do território, in XXI Ter Opinião (nº 6)
[artigo soberbo, vale a pena.]
Haxixe
Baudelaire faz questão de referir que, na parte do Haxixe, lhe valeu "um livro inglês excessivamente curioso (Diário de um Opiómano, de Thomas de Quincey)", e eu fico contente por reencontrar velhos amigos em casa de anfitrião tão encantador.
IV
O HAXIXE
[...]
Eis uma composta verde, singularmente odorífera, de tal modo odorífera que provoca uma certa repulsa, como aconteceria, aliás, com qualquer odor requintado levado ao extremo da sua força e por assim dizer da sua densidade. Agarre numa porção do tamanho de uma noz, encha uma pequena colher, e estará na posse da felicidade; da felicidade absoluta com toda a sua embriaguês, todas as loucuras de juventude, e também todas as beatitudes infinitas. A felicidade está ali, sob forma de um bocadinho de compota; sirva-se sem receio, não se morre por isso; os órgãos físicos não são prejudicados. É possível que a sua vontade se torne menor, isso é outra história.
Geralmente para dar ao haxixe toda a força e desenvolvimento, é preciso dilui-lo em café muito quente, e tomá-lo em jejum; o jantar é adiado para as dez horas ou para a meia-noite; apenas uma sopa muito leve é permitida. Uma infracção a esta regra tão simples produziria ou vómitos, ou a ineficácia do haxixe. Muitos ignorantes ou imbecis que assim se comportam acusam o haxixe de impotência.
[...]
Do Vinho e do Haxixe, Charles Baudelaire
20.2.16
Umberto Eco [1923-2016]
de Umberto Eco, primeiro em filme - numa aula de filosofia - pela mão de Jean-Jacques Annaud, depois o livro, O Nome da Rosa.
mas também, entre muitos outros, com um carinho muito especial, Palomar [Palomar é o nome de um famoso observatório astronômico que durante muito tempo ostentou o maior telescópio do mundo. Por intencional ironia, é também o nome do protagonista destes textos curtos de Italo Calvino, pois este senhor Palomar é todo olhos, mas funciona quase sempre como se fosse um telescópio ao contrário, voltado não para a amplidão do espaço, mas para as coisas próximas do cotidiano. É como se ele nos dissesse que as grandes questões do mundo e da existência também estão presentes em cada objeto que observamos, em cada cena que presenciamos, e que tudo é digno de ser interrogado e pensado.]
[um forte abraço ao JM, leitor/admirador confesso do Sr. Palomar, e que, no seu extinto blog, tão bem o reinventava.]
a 20.2.1909, é publicado no jornal francês Le Figaro, o Manifesto Futurista, de Filippo Tommaso Marinetti.
eu, Sísifa, me confesso
Sísifo nunca tinha encontrado na vida um prazer comparável ao gozo de ver a pedra rolar pelo barranco abaixo e soltá-la no momento em que pudesse assustar qualquer sombra desprevenida a passear pelo vale. Com esse tão variado divertimento conseguia assim que o seu trabalho se convertesse no automatismo de uma acção reflexa (nome que, segundo entendo, os homens de ciências atribuem a todos os actos que executamos sem pensar).
J. L. Borges e Bioy Casares, Livro do Céu e do Inferno
9.2.16
A Ronda da Noite
— O Rogério Conceição, em oito segundos, resolve isto.
Oito segundos é o recorde dele.
Maria Rosa olhou para ela com inquietação. Não a censurava,
mas tudo aquilo lhe parecia parte duma maldição que
pesava sobre as mulheres. Alguém lhe tinha dito que o mundo
só tinha salvação quando as mulheres deixassem de ter filhos e
os sexos fossem um só. Era inconcebível, mas talvez se chegasse
lá um dia.
— Onde ouviste isso? — disse Patrícia. Aquilo parecia-lhe um atentado à sua dignidade, embora ela visse, nesse
momento, a sua dignidade bastante comprometida.
— Não sei.
— Comigo não faças mistérios.
— Não faço mistérios, não sou pessoa para isso. Foi uma
coisa que li.
— O que andas tu a ler, menina? Depois da Lady
Chaterley julguei que já tinhas lido tudo. E agora vens-me com
essa do sexo único. Fazes ideia do que estás a dizer?
— Faço. Já não te metias em sarilhos nem ias parar a uma
clínica onde te remexem nas entranhas como se estivessem a
abrir um cofre em oito segundos! Já é ser perito de arrombamento!
Fazes-me rir e chorar ao mesmo tempo.
— Tu nunca choras, Maria Rosa.
— Às vezes. Chorei um dia, quando tinha quatro anos e
me cortaram o cabelo à rapaz. Dei gritos tamanhos que até se
ouviram nos vizinhos. E não era pequena distância; nós vivíamos
num chalé dentro dum jardim grande.
— Não querias parecer um rapaz.
— Não sei. Era uma grande pena. Nunca me senti tão
infeliz depois disso. Às vezes pensava no que me fez chorar tanto e não encontro o motivo. Morreu-me um filho em
pequenino mas não é a mesma coisa. Estás certa que sermos
mulheres é a origem de todo o mal? O desejo dos homens, o
prazer com que convencem o desejo, são coisas horríveis, se
lhes pintarmos toda a sorte de maldades que são o excitante
necessário. Já agora que falaste de Lady Chaterley, essa
mulher tremenda e sem compaixão. Sem compaixão, o sexo é
uma batalha vulgar, um crime como não há outro igual.
— Deixas-me arrasada. Agora não sei se hei-de fazer o
aborto ou não. Dizes bem: aquele burro do Lawrence não percebeu
nada das mulheres. Ou só percebeu o que era para perceber
por ele próprio. Não houve o primeiro Adão mas a primeira
Eva. Dá-me mais uma pinga de chá. Onde compras o
chá? A mamã comprava-o numa loja de modas, era chique.
Nunca percebi a diferença do que é chique e do que não é chique.
Disse-me o Mariano, que é professor na Universidade:
“Porque é que o amarelo não há-de dizer com o rosa?” Depois
as cores psicadélicas ficaram na moda. É uma questão de
votos e não de gostos? O que é que faz o voto?
— Tem pena de mim. Choveu todo o dia e a chauffage
avariou. O voto é uma inveja compulsiva, aí tens.
Passados dias Patrícia Xavier morreu e aquilo entendeu-se
como um desastre. Os médicos calaram-se no diagnóstico, o
que levantou mais suspeitas, tanto mais que ela tinha recorrido
a uma parteira e não teve a assistência do tal experiente arrombador
de cofres.
A Ronda da Noite, Agustina Bessa-Luís
Amarantina, a Grande
Nem Dona Agustina [que, diga-se, soa a gozação de gente pequena, habituada a mandar as mulheres para a cozinha], nem Maria Agustina, [tratamento que os mais próximos lhe reservavam], o que Agustina gostava mesmo era de ser tratada por Amarantina.
----
leia-se a Ler - 2009
6.2.16
a carn val?
in Menino de Sua Mãe
Sim, faço parte do grupo dos sem graça que dispensa o Carnaval. Pior, em dias de tpm, era mulher para mandar abolir essa azucrinação.
Mas que ninguém se iniba por causa de um grupo de enjoadinhos. Samba nessas nádegas e muita alegria!!
4.2.16
a morte ii
Os nossos mundos e o nosso universo não nos sobreviverão por muito mais tempo. No final, a entropia tudo consumirá e os nossos débeis esforços não podem impedir esse fim terrível. Terá terminado. Nunca terá sido. Nunca foi sequer importante. O próprio universo está condenado, é passageiro, indiferente.
O Caminho da Cruz e do Dragão, George R. R. Martin
Kevin Schawinski
[02/02/2016]
2.2.16
a morte
[...] - Nós, os Mentirosos, tal como os outros de todas as religiões temos diversas verdades que aceitamos como fé. A Fé é sempre exigida. Algumas coisas não podem ser provadas. Acreditamos que a vida vale a pena ser vivida. Isso é um acto de fé. O objectivo da vida é viver, resistir à morte, talvez desafiar a entropia.
- Continue - disse, interessado, apesar de tudo.
- Também acreditamos que a felicidade é uma coisa boa, algo que vale a pena procurar.
- A Igreja não se opõe à felicidade - disse secamente.
- Pergunto-me se será mesmo assim - disse Lukyan. - Mas não sejamos picuinhas. Qualquer que seja a posição da Igreja sobre a felicidade, ela prega a crença na vida depois da morte, num ser supremo e num complexo código moral.
- Verdade.
- Os Mentirosos não acreditam na vida depois da morte, em Deus. Vemos o universo como ele é, Padre Damien, e estas verdades nuas, são verdades cruas. Nós, que acreditamos na vida, que a estimamos, vamos morrer. Depois disso não haverá nada, vazio eterno, escuridão, não-existência. Não houve uma finalidade na nossa vida, nenhuma poesia, nenhum significado. Nem as nossas mortes possuem características. Quando nos formos embora, o universo não se lembrará de nós por muito tempo, e em breve será como se nunca tivéssemos sequer vivido.
[...]
O Caminho da Cruz e do Dragão, George R. R. Martin
Não te esqueças de viver! - Maria Filomena Molder
[Ciclo de Conferências da Culturgest]
Subscrever:
Mensagens (Atom)
Au revoir, ma chérie, Mu, Mu!