13.12.15

«Todas as outras ocupações humanas tendem mais ou menos a explorar o homem; só essa de contar histórias se dedica amoravelmente a entretê-lo, o que tantas vezes equivale a consolá-lo.»*

sou fraca de nomes, já nem perco tempo a tentar perceber a razão. o nome de Teresa Veiga, que me lembre, vi-o algumas vezes no site da Cotovia, estive quase à encomenda, mas nunca calhou. quando, já este ano, pela Tinta da China (com uma capa de um azul-petróleo de suspirar e sob tão curioso nome - Gente Melancolicamente Louca -, [o advérbio, velho amigo pessoal, enrola-se na língua, delicioso, lento, demorando-se nas consoantes líquidas, nasalizando-se em comprimento]), a escritora esteve em destaque nas livrarias, olhei várias vezes aquela capa. não fosse a minha doença social, irritante, de me aborrecer, mesmo antes de os comprar, com os livros que toda a gente comenta e diz que lê, de me enfastiar com as modas literárias, quase de forma sobranceira, e teria tido o prazer de começar a ler esta narradora incrível há muito mais tempo. 
felizmente, há isto dos blogs. e eis senão quando, numa simples brincadeira, o anão gigante, me traz novamente o nome de Teresa Veiga à vontade. o excerto viciou-me, o livro estava esgotado, varri a internet, encontrei um exemplar como novo, a metade do preço, tive sorte. tenho uma predilecção pelo conto, contrariamente aos puristas, não o considero menor, tão-pouco básico, mas uma narração delimitada, onde a fartura de histórias circulares e personagens secundárias do romance, dá lugar à riqueza dos pormenores, à concentração do prazer, dentro da sua estrutura fechada. a História da Bela Fria pode muito bem ter sido um dos melhores livros de contos que li em 2015.


*Eça de Queirós, Correspondência