-- Porque não colas etiquetas nos teus livros? - perguntou depois de ter percorrido com o olhar a minha biblioteca.
-- Para quê?
-- Ora, para todos os livros terem o seu número... E eu, onde hei-de pôr os meus? Também tenho livros.
-- Que livros tens tu? - perguntei-lhe.
Alexandra levantou a sobrancelhas, reflectiu e disse:
-- ...De todos os géneros...
E se eu tivesse tido a ideia de lhe perguntar quais eram os seus pensamentos, as suas convicções, os seus objectivos, ela teria certamente levantado do mesmo modo as sobrancelhas, reflectido, e dito "De todos os géneros..."
Acompanhei-a em seguida a casa e deixei-a como um verdadeiro noivo reconhecido, tal como eu julgava ser até nos casarmos. Se o leitor me permite julgar o caso unicamente pela minha experiência pessoal, posso assegurar-lhe que a condição de noivo é muito aborrecida, mais ainda do que a de marido ou a de quem não é absolutamente nada. Um noivo não é carne nem peixe: deixou uma das margens, mas ainda não chegou à outra; não é casado, mas não pode dizer que seja solteiro, tem qualquer coisa do porteiro a quem já fiz alusão.
(...)
Amor, Anton Tchekhov