– Lembro-me deste livro. Estava a lê-lo quando conheci o teu pai. Lembro-me de ter gostado dele, mas de ser um pouco irritada por ele também, porque fazia aquela coisa reles que as pessoas fazem, a irmã doce, doméstica e boa é afastada em prol da outra, esperta e bem-falante. Jane e Elizabeth. Lembro-me delas agora. Não me parecia justo que Jane fosse tão boa e, no entanto, Elizabeth é que era admirada. Suponho que é Austen ripostando. Ela era essa espécie de mulher e sabia que era a rapariga doce e boa que é estimada pela sociedade, não uma como Elizabeth, que diz o que tem a dizer. Mas Jane Austen tinha obrigação de não catalogar as mulheres, umas uma coisa, outras outra. – Pensa na verdade que ela faz isso?
– Penso. Acontece noutro livro, também. - Ela olhou outra vez para lá do rio. – Mulherzinhas – disse ela após um momento. - Havia a irmã que era escritora e a outra, que tinha bebés.
– Jo e Meg - disse eu.
– É a mesma coisa - disse ela. – Mulheres escritoras deviam fazer melhor do que compartimentar mulheres, colocá-las em pequenos grupos, o das espertas e o das dóceis. As mulheres dos professores fazem isso na Universidade, também, nos chás das faculdades e noutras ocasiões.
[Anna Quindlen, A Única Verdade, Quetzal, 1999]