17.3.16

aborto

Tendo completa noção de que há temas, especialmente nas redes sociais, que servem apenas para trocas de acusações absurdas e estéreis e gáudio de quem as manobra, incólume, na sombra, metendo achas, quando a agenda lhe coincide, ainda assim, apetece-me dizer (aqui) que me sinto bastante próxima das palavras do Carlos G. Pinto. 

Nunca serei a favor da penalização da mulher, relativamente à prática do aborto, por variadas razões, mas considero desprezível a ideia que se acomodou naturalmente na sociedade, de que se trata de um acto banal e corriqueiro, e da sua desresponsabilização, como se se tratasse da simples remoção de um calo ou de uma verruga. A própria palavra interrupção é falaciosa, amenizando a prática, mas essa é uma questão menor neste desabafo.

Não tenho crenças religiosas, - creio na Natureza, se tanto -, e se me subjugo a algumas convenções morais instituídas, justifico-o pela falta de paciência/necessidade em tentar apelar às minhas convicções e pela superficialidade que tais actos reflectem na minha vida. A minha questão com o aborto nada tem que ver com o céu ou o inferno, moralidade ou imoralidades, ideologias ou carneiradas, mas com a falta de reflexão sobre o mesmo. Banalizar um acto extremo, deixa-me indisposta. Assistir a isto foi o meu limite. Transformámo-nos numa sociedade chiclete e orgulhamo-nos disso. 

Nunca incentivei ninguém à prática do aborto, nem o seu contrário, - a decisão é profundamente íntima e intransmissível -, e já apoiei amigas durante o processo, o que em nada alterou a nossa amizade. Apenas que não me venham fazer da coisa uma bandeira de orgulho feminino.

Aceito estar errada no meu ponto de vista, não pretendo sequer convencer ninguém ao meu pensamento. É, apenas, a minha opinião.