18.3.21

«Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Leste e Oeste, A minha semana útil e o meu domingo inerte, O meu meio-dia, a minha meia-noite, a minha canção, a minha fala, Achei que o amor fosse para sempre: (...). » 


Quando me disseste que não mais me amavas,

e que ias partir,

dura, precisa, bela e inabalável,

com a impassibilidade de um executor,

dilatou-se em mim o pavor das cavernas vazias...

Mas olhei-te bem nos olhos,

belos como o veludo das lagartas verdes,

e porque já houvesse lágrimas nos meus olhos,

tive pena de ti, de mim, de todos,

e me ri

da inutilidade das torturas predestinadas,

guardadas para nós, desde a treva das épocas,

quando a inexperiência dos Deuses

ainda não criara o mundo...


João Guimarães Rosa, Magma