5.2.21

simília similibus

Quem deita sal na carne crua deixa

a lua entrar pela oficina e encher o barro forte:

vasos redondos, os quadris

das fêmeas - e logo o meu dedo se poe a luzir

ao fôlego da boca: onde

o gargalo se estrangula e entre as coxas a fenda

é uma queimadura

vizinha

do coração - toda a minha mão se assusta, 

transmuda,

se torna transparente e viva, por essa força que a traga

até dentro,

onde o sangue mulheril queimado

a arrasta pelos rins e aloja, brilhando

como um coração,

na garganta - o sal que se deita cresce sempre

ao enredo dos planetas: com unhas

frias e nuas

retrato as lunações, talho a carne límpida

- porque eu sou o teu nome quando

te chamas a toda a altura

dos espelhos e até ao fundo, se teus dedos abertos tocam

a estrela

como uma pedra fechada no seu jardim selvagem

entre a água: tu tocas

onde te toco, e os remoinhos da luz e do sal se tocam

na carne profunda: como em toda a olaria o movimento

toca a argila e a torna

atenta

à translação da casa pela paisagem rodando sobre si

mesma - a teia sensível,

que se fabrica no mundo entre a mão no sal

e a potência

múltipla de que esta escrita é a simetria,

une

tudo boca a boca: o verbo que estás a ser cada

tua morte

ao que ouço, quando a luz se empina e a noite inteira

se despenha

para dentro do dia: ou a mão que lanço sobre

esse cabelo animal

que respira no sono, que transpira

como barro ou madeira ou carne salgada

exposta

a toda a largura da lua: o que é grave, amargo, sangrento.