Henry David Thoreau defendeu, em Walden (uma referência importante no seu romance): “A maior parte das pessoas tem vidas de desespero resignado. Aquilo a que chamamos resignação não passa de desespero crónico. Da cidade desesperada ao país desesperado, não nos resta senão procurar consolo na coragem das martas e dos ratos-almiscareiros.” Concorda?
Essa passagem é ainda mais verdadeira hoje do que no tempo de Thoreau. Os meios de comunicação atuais são sobretudo meios de entretenimento. Tenho horror à nossa obsessão por preencher cada minuto com qualquer coisa. Porque acredito que o silêncio e a solidão escondem verdadeiros tesouros. O meu maior tesouro é a escrita, que nasce do rumor e do silêncio. O maior prémio que este livro me deu foi o encontro com a solidão na montanha. Hoje, a cidade, real ou virtual, está cheia de ruído, que nos suga e nunca nos deixa ficar a sós.