O que?…………………………. Oh! sim, mil vezes melhor. Se não tivesses telefonado morreria………………………… Não……………………… espera…………………………….. espera……………………………… encontremos uma saída…………………………… Perdoa-me. Eu sei que é uma cena intolerável, e muita paciência tens tu, mas compreende-me, querido; sofro, sofro como nunca. Este fio é a única coisa que me liga ainda à nossa vida………………………….. Anteontem à noite? Dormi. Deitei-me com o telefone……………………… Não, não. Levei-o para a cama………………. Claro, fui ridícula, mas se levei o telefone para a cama é porque ele, apesar de tudo, nos une ainda. Liga esta casa à tua casa e não te esqueças que me tinhas prometido falar. Imagina que mergulhei numa confusão de sonhos. A tua chamada transformava a campainha do telefone num som mortal e eu caía; depois, vi um pescoço branco que alguém estrangulava; depois ainda, achei-me no fundo dum mar que se parecia com o apartamento de Auteuil, ligada a ti por um tubo de escafandro e a suplicar-te que não o cortasses. Enfim, sonhos estúpidos quando se contam; mas o pior é que durante o sono eram demasiado vivos. Terrível, meu amor…………………………………………….. Porque tu me falas. Há cinco anos que vivo de ti, que és o único ar que posso respirar, que levo o tempo à tua espera, a julgar-te morto quando te demoras, a morrer porque te julgo morto, a reviver quando entras e te vejo, a morrer com medo de partires. Neste momento, respiro porque tu me falas. O meu sonho, afinal, não é assim tão falso; se desligares agora, morrerei afogada naquele mar que parecia o teu apartamento……………………………………………………………………… De acordo, meu amor; dormi. Dormi porque era a primeira vez. O médico bem disse: é uma intoxicação. Mal ele sabia… A primeira noite, dorme-se. O sofrimento distrai, é uma novidade, suportamo-lo. O que não se suporta é a segunda noite, a de ontem, e a terceira, a de hoje, a que vai começar dentro de alguns minutos, e amanhã e depois de amanhã, dias sobre dias, a fazer o que, meu Deus?
daqui: o grifo é meu