6.5.16

«a de açor»

Uma pessoa aprende. Hoje, pensei, já não com nove anos e sem estar aborrecida, era paciente e as aves de rapina apareciam.

Levantei-me lentamente, com as pernas um pouco entorpecidas por ter estado imóvel durante tanto tempo, e vi que tinha na mão uma pequena quantidade de musgo-das-renas, um pedacinho desse líquen ramificado de um cinzento-esverdeado pálido que pode sobreviver do quase nada que o mundo lhe fornece. É um exemplo de paciência. Se o guardarmos no escuro, se o congelarmos, se o secarmos até ficar estaladiço, o musgo-das-renas não morre. Fica em estado latente à espera de que as coisas melhorem.

É um ser impressionante. Sopesei a pequena esfera ramosa. Era quase como se não a tivesse na mão. E, num impulso súbito, enfiei no bolso de dentro do colete essa pequena recordação roubada ao dia em que vi as aves de rapina, e fui para casa. Pu-la numa prateleira perto do telefone. 

Três semanas mais tarde, era para o musgo-das-renas que olhava quando a minha mãe ligou a dizer que o meu pai tinha morrido. 

Helen Macdonald