(...)
De nove em nove anos entram na casa nove homens para que eu os liberte de todo o mal. Ouço os seus passos ou sua voz no fundo das galerias de pedra e corro alegremente para os receber. A cerimónia dura poucos minutos. Um após outro caem sem que eu ensanguente as mãos. Onde caíram, ficam, e os cadáveres ajudam a distinguir umas galerias das outras. Ignoro quem são, mas sei que um deles, à hora da morte, profetizou que um dia chegaria o meu redentor. Desde então não me custa a solidão, porque sei que é vivo o meu redentor e por fim se há de levantar acima da poeira. Se o meu ouvido alcançasse todos os rumores do mundo, eu daria pelos seus passos. Oxalá me leve para um lugar com menos galerias e menos portas. Como será o meu redentor?, pergunto-me. Será um touro ou um homem? Será talvez um touro com cara de homem?
O sol da manhã reverberou na espada de bronze. Já não restava nem um vestígio de sangue.
– Acreditarás, Ariadna? – disse Teseu. – O minotauro mal se defendeu.
A Marta Mosquera Eastman
Jorge Luis Borges, «A casa de Astérion», in O Aleph, QUETZAL