O erro deles, o erro em que a maior parte deles cai, é tentar calcular e determinar, com a mais fina aparelhagem, a origem da ferida.
Procuram, com a devida tenção, os espaços entre a aparência e o vazio que dela depende. Vão ao encontro da ferida com deferência, um bisturi, uma agulha e uma linha. Logo à entrada do bisturi, alarga-se o espaço. Com a utilização da agulha e da linha, a ferida coagula e atrofia-se-lhe nas mãos.
Shakespeare escreve pela ferida aberta e, por ele, sabemos quando está aberta e quando está fechada. Somos capazes de dizer quando pára de bater e dizê-la no ponto mais alto da febre.
Várias Vozes, Harold Pinter, ed. Quasi