É também um grande prazer para qualquer um fechar uma carta, vestir-se devagar e sair docemente de casa para ir levar aquele tesouro à caixa do correio. Já não há estrelas no céu; em seu lugar, no Levante, aparece por sobre as casas tristes uma longa faixa branca cortada, aqui e além, por nuvens e que inunda todo o céu de uma claridade pálida. A cidade dorme, mas os carros da água já saíram, a sereia de uma fábrica distante acorda os trabalhadores. Junto à caixa vê-se infalivelmente um porteiro enregelado, metido no seu grande capote em forma de sino e de pau na mão. Está em catalepsia: não dorme nem vela, o seu estado é intermédio...
Se as caixas de correio soubessem o número de vezes que lhes é pedido que resolvam a felicidade das pessoas, não teriam um ar tão tranquilo. Quanto a mim, quase beijei a minha, e, olhando-a, lembrei-me de que o correio é o soberbo bem!...
Convido todos os que já estiveram apaixonados, a recordarem-se de que, uma vez posta a carta na caixa, as pessoas se apressam a correr para casa, a deitarem-se e a puxarem para cima o cobertor, com a certeza absoluta de que, no dia seguinte, não acordam sem logo se lembrarem da véspera, e de que hão-de olhar com entusiasmo para a janela por onde a luz do dia abre avidamente caminho, através das pregas dos cortinados...
Mas voltemos à nossa história...
(...)
Amor, Anton Tchekhov