(...) Não que eu quisesse fazê-la mais extensa, mais florida ou sentimental, mas porque sentia um desejo sem limites de prolongar o prazer de escrever, ali sentado no silêncio do escritório onde mirava a noite primaveril e conversava com os meus próprios sonhos. Entre as linhas via aquela imagem querida, e parecia-me que estavam ali, sentados à mesma mesa e também a escrever, espíritos como eu inocentemente felizes, mas sorrindo beatificamente. Eu escrevia sem deixar de olhar a minha mão ainda elanguescida por um recente aperto de mão, e, se me acontecia deitar um olhar de lado, via a grade do portão verde. Fora através dessa grade que Alexandra me olhara depois de eu lhe ter dito adeus. Nesse momento não pensava em nada e contentava-me com admirar a sua pessoa, como faz qualquer homem bem-educado diante de uma mulher bonita; mas quando, através da grade, vi os seus dois grandes olhos, compreendi de súbito, como numa inspiração, que estava apaixonado, que entre nós tudo esta definitivamente resolvido, e que só me restava respeitar as formalidades.
(...)
Amor, Anton Tchekhov