Quando era jovem, escondi Hércules na algibeira do meu fato
de marinheiro, quando era velho restituí-lhe a liberdade ao
fixar o seu resgate à minha pedra tumular em ricochetes. Ele
ria por baixo da minha mordaça, um riso de hera. Mas tarde,
como se levasse avanço fiz germinar miríades de ovos de
sapos provenientes de estrelas de cangurus no chapéu com
gavetas de Napoleão da minha cómoda com pés de trevo sem
folhas. Tenho como bisneta Cleo de Mérode, minha bisavó
que viaja no dorso de lobo juntamente com Carlos, o Temerário.
Ganhei um bilião de vezes a taluda à roleta jogando os nove
meses do ano. Expulsaram-me em triunfo de todas as salas de
esgrima porque queria apanhar mel. Foi nesse dia que compreendi
os sete mistérios da criação. Cleo de Mérode passava o seu tempo a
querer calçar o pé da mesa com o mais claro dos meus rendimentos.
Pus Cleo de Mérode na chancela do meu anel. Ela está tranquila,
ela desperta os mortos. Esterilizo todos os dados. O embrião mantém
a sua aparência de chave inglesa, o ímpio já não se faz fanfarrão.
Regulamentei a prisão por dívidas. É preciso mostrar carta branca
para entrar e não subestimar os guardas.
[André Breton & Paul Éluard, A Imaculada Concepção, estúdios cor, p. 54/55]