é comprar, minha gente.
ainda me doem as costas, do tempo que estive quieta, sôfrega, a acabar de ler «O Condómino». que tremendo livro! há que tempos não me lambuzava assim numa história, aos tropeções nas frases, só para avançar mais depressa e descobrir os meandros, depois correndo atrás, porque, porra, as frases eram boas demais e mereciam era ser relidas e não puladas a correr. entre a ânsia de chegar, o tesão febril daquela laia de condóminos - que é domingo de manhã e a gente não é de ferro, tão pouco de papel, a carne dá de si, pede atenção -, e a boa escrita, (repito: boa escrita) cheguei ao fim com uma sensação agridoce, - nunca a omoleta de cebola! -, de que acabei de ler um grande livro. um daqueles que ficam cá a martelar no lobo temporal. do meu ombro altruísta, tocam cornetas, chamando-me a atenção para o facto de ser mais um - livro/ escritor - que nunca irá ser lido quanto merece. sem a máquina ruidosa a defecar marketing, o António não passará de um animal subterrâneo. talvez caia no goto de alguma editora comercial, que lhe encontre jeitos de um desses novos - grandes - escritores e a coisa mude. eu bem que o prefiro assim, sem propagandas, mas também sei que merece mais, muitos mais leitores.
ainda me dói o antebraço, forçado à imobilidade, segurando o livro, o cuidado de não chapinhar a água que me cobria o corpo nas páginas secas que galgavam os meus olhos imbecis da manhã. a mamada final não a esperava eu ali, queria era saber quem era o outro. quem era o outroooo? gritava eu, parvinha, mas a palavra, pornográfica de raiz, perdoem-me as mãezinhas de mama ao léu, gulosas pela boquinha dos rebentos, a palavra, dizia eu, fica-nos agarrada ao fundo da garganta, numa cadência latejante, ansiando o clímax mortal. afinal, a dona Lurdes morreu de quê?