Prólogo
A cadeia não é tão má como se imagina. Quando digo cadeia, não quero dizer prisão. Prisão é uma espécie de lugar que se vê em filmes antigos ou em documentários de uma televisão de serviço público, enormes espaços cinzentos com torres de vigia em cada canto e rolos de arame farpado que cercam os muros altos a toda a volta como um caracol. Prisão é onde os presos batem nas grades com colheres de metal, planeiam insurreições no pátio e levam o mais novo de todos - e que cumpre a primeira pena - para o chuveiro, enquanto os guardas viram as costas e o deixam por sua conta, o sangue escorrendo palidamente, carmesim misturado com branco leitoso escorrendo pela parte de trás das coxas isentas de pelos, o brilho dos olhos transformado para sempre.
[Anna Quindlen, A Única Verdade, Quetzal, 1999]