23.12.15

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[na verdade, se bem me lembro, era precisamente com esta ânsia, que eu, noutros tempos, esperava a madrinha, em Agosto...]

...

--Sim, sim, tenham calma, não nos ensurdeçam... pobres e cansados viajantes que nós somos! Deixem-nos em paz para podermos escalar este monte infernal! Está tudo ali, descansem, o xaile, a caixa e os livros, além de outras coisas, alfinetes e agulhas, fruta e uma garrafa ou duas de vinho, e algumas lembranças para distribuir pela aldeia. E agora tenham a bondade de nos dar uns minutos para recuperamos o fôlego - diziam eles, enquanto as crianças dançavam à sua volta, ajudando-se mutuamente a carregar os pacotes mais pequenos, sem darem tréguas à torrente de perguntas:
--Viu o Grande Cã? O Akond de Swat? O Fon de Bikom? O Sultanato de Rum? Foi ao Catai? À cidade antiga de Moscovo? Foi ao distrito de Dalai, na Tanzânia? Andou de barco, de camelo, de lama, de elefante?

E, no cimo do monte, a Avó esperava-os no seu alpendre, indiferente ao tempo que fizesse ou à hora tardia a que chegassem, majestosamente sentada, envolta mas suas peles e na manta de retalhos, enquanto as tias corriam de um lado para o outro trazendo pedras quentes para lhe colocarem debaixo dos pés. Os tios iam sempre abraçá-la primeiro, com muito afecto e respeito, e só depois se viravam para as suas mulheres e cunhadas.

(cont.)


[sogra difícil?...]