4.12.15

Amor VI

Amor V

Entre as quatro e as cinco da tarde, fui ao recanto mais afastado do jardim público. Não se via vivalma e o encontro podia na verdade ter sido marcado mais perto, nas alamedas ou nos caramanchões. As mulheres, porém, gostam dos romances completos: se lhes dão mel, comem-no à colherada, se lhes propõem um encontro é preciso que ele se efectue no mais denso e impenetrável dos jardins, onde as pessoas se arriscam a dar com algum gatuno ou com algum burguês de grão na asa.
Quando me aproximei de Alexandra, estava ela de costas e achei um mistério danado essas costas voltadas. Dir-se-ia que as costas, a nuca e as manchas pretas do vestido, diziam: silêncio! A rapariga estava com um vestido de chita indiana, muito simples, sobre o qual pusera uma leve capa.
Para aumentar ao mistério, tinha o rosto escondido com um veuzinho branco. A fim de não estragar a harmonia, tive de me aproximar em bicos de pés e começar a falar a meia voz.
Segundo hoje me parece, eu não era o essencial nesse encontro, mas um simples pormenor. (...)

Amor, Anton Tchekhov