2.2.16

a morte


[...] - Nós, os Mentirosos, tal como os outros de todas as religiões temos diversas verdades que aceitamos como fé. A Fé é sempre exigida. Algumas coisas não podem ser provadas. Acreditamos que a vida vale a pena ser vivida. Isso é um acto de fé. O objectivo da vida é viver, resistir à morte, talvez desafiar a entropia.

- Continue - disse, interessado, apesar de tudo.

- Também acreditamos que a felicidade é uma coisa boa, algo que vale a pena procurar.

- A Igreja não se opõe à felicidade - disse secamente.

- Pergunto-me se será mesmo assim - disse Lukyan. - Mas não sejamos picuinhas. Qualquer que seja a posição da Igreja sobre a felicidade, ela prega a crença na vida depois da morte, num ser supremo e num complexo código moral.

- Verdade.

- Os Mentirosos não acreditam na vida depois da morte, em Deus. Vemos o universo como ele é, Padre Damien, e estas verdades nuas, são verdades cruas. Nós, que acreditamos na vida, que a estimamos, vamos morrer. Depois disso não haverá nada, vazio eterno, escuridão, não-existência. Não houve uma finalidade na nossa vida, nenhuma poesia, nenhum significado. Nem as nossas mortes possuem características. Quando nos formos embora, o universo não se lembrará de nós por muito tempo, e em breve será como se nunca tivéssemos sequer vivido. 

[...]

O Caminho da Cruz e do Dragão, George R. R. Martin






Não te esqueças de viver! - Maria Filomena Molder
[Ciclo de Conferências da Culturgest]