3.12.15

Amor V

Amor (IV)

Naquela letra grande mas cuidada, eu via o andar de Alexandra, a sua maneira de levantar as sobrancelhas quando ria, o movimento dos seus lábios... Mas o conteudo da carta não me satisfez. Em primeiro lugar não se responde assim a uma missiva poética; em segundo lugar, para quê ir a casa da Alexandra e ficar à espera de que a sua gorda mãe, os irmãozinhos e os comensais da casa, adivinhem que nos devem deixar sós? Talvez mesmo sejam incapazes de adivinhar que não pode haver nada mais odioso do que refrear o nosso entusiamo só porque está plantado ao nosso lado um objecto qualquer, do género velha meio surda ou garota perguntadora. Entreguei à criada uma resposta em que propunha a Alexandra escolher como local de encontro um jardim ou uma avenida. A minha proposta foi aceite de boa vontade. Eu tinha acertado, como se costuma dizer, em cheio.
(...) 

Amor, Anton Tchekhov