28.11.15

“Balada a Philip Muir”

Philip Muir cruza o Atlântico em seu navio.
Nem almirante nem corsário: copeiro inglês.
Pele de nácar, pintas de ouro, cabelo ruivo.
Philip Muir, de brancas unhas, correto e esguio,
é um puro lorde, pelo silêncio e pela altivez.

Diz-me: Good evening, endireitando-me a cadeira.
Espera as ordens. Não fita os olhos em ninguém.
Após dois dias, conhece todos os meus gostos
à mesa. E apenas corre com o olhar a lista inteira
da sopa à fruta. Nunca se esquece do chow mein.

Do lado do Norte, há sangue nas águas do Oceano.
E do lado de Leste. E nas terras. Sangue inglês.
E por baixo do mar andam as sombras sem passos…
Philip Muir, no meio do desastre humano,
serve champanhe, hoje. Amanhã, seu sangue, talvez.

Diz-me: Good evening, endireitando-me a cadeira.
Mais tarde, na noite, acende seu cachimbo e vem
ver as estrelas nascendo do amargo horizonte,
– ilhas dormentes, que o vento embala a noite inteira…
e muitas cenas – tão diferentes! – mais além.

Nenhum soldado será mais grave nem mais frio
que Philip Muir, se ainda chega a sua vez.
Coberto de lama, sangue, injúria, dor e morte,
Philip Muir partirá num outro navio,
navio de nuvem, mas com mastro de altivez.

Nem duque nem lorde: um simples homem da Britânia.
Nem almirante nem corsário: copeiro inglês.


De Poemas de viagem (1940-1964)


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