6.6.15

Deve ser terrível enterrar alguém que se ama nos princípios de Maio, quando o solo começa a descongelar e a espreguiçar-se, transformando-se num verde-vivo e o cheiro dos lilases desce em cascatas dos arbustos como uma pequena bênção. Ou em Setembro, quando o sol do meio-dia ainda aquece os rostos, mas as noites são suficientemente frescas para se usar uma camisa de noite de flanela e um cobertor extra puxado para cima a meio da noite.
Ou o Natal. Deve ser horrível no Natal.
Fevereiro é o mês adequado para se morrer. Tudo em redor está morto, as árvores negras e geladas, de maneira que o aparecimento dos rebentos verdes daí a dois meses parece uma coisa inconcebível, o solo duro e frio, a neve suja, o vento odioso, prolongando-se demasiado tempo.

[Anna Quindlen, A Única Verdade, Quetzal, 1999]